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Krisis 25 – Editorial (Português)

Junho de 2002

Vivemos em tempos de confraternização ocidental. Não há confraria que não envie ao Pentágono juramentos de fidelidade e cartas de agradecimento. Os pequenos atritos ocasionais não deveriam iludir-nos a esse propósito. Nem o facto de a fidelidade já não ser entendida como pessoal, mas perfeitamente objectiva; o seu objecto já não são os valentes senhores na Casa Branca, mas os valores senhoriais dos homens brancos. Pois é, o que está em questão é a civilização e o Esclarecimento; é este o derradeiro denominador comum, pelo qual agora se faz a guerra em nome da religião secularizada do valor.

Nos Estados Unidos, não só Huntington e Fukuyama se desdobram numa retórica de “guerra justa”. Não, mesmo Democratas de esquerda como Amitai Etzioni e Michael Walzer mostram onde e a quem se sentem pertencer: ao Sonho Americano da Freedom and Democracy. Numa carta publicada por intelectuais dos Estados Unidos sob o título “What we are fighting for: A letter from America” (citada segundo a Neue Zürcher Zeitung, 23/24 de Fevereiro de 2002, p. 7) lemos as palavras devotas: “A expressão política mais clara da fé na dignidade humana intrínseca à natureza é a democracia.” Nenhum destes intelectuais tem a menor sombra de uma dúvida de que os “valores americanos” sejam universais. Claro está que “o melhor do que demasiado levianamente designamos de ‘valores americanos’ não pertence apenas à América, constituindo antes o património comum da Humanidade e, assim sendo, um possível fundamento para a esperança de uma comunidade mundial edificada sobre a Paz e a justiça.” E quem não quiser que tal lhe pertença, leva devidamente na cara com os veículos mais diversos. Da cultura até à cruzada.

“Os princípios da guerra justa ensinam-nos que as guerras de agressão e de conquista territorial são inaceitáveis” – Do que falam eles? Não será, porventura, da génese dos EUA enquanto estado ou do seu papel depois da segunda guerra mundial? “É de presumir que as guerras em prol da glória nacional, de conquistas territoriais ou de outras finalidades não defensivas não devem ser legítimas” (sic!). A justificação moral primária de uma guerra é a protecção dos inocentes de um prejuízo certo.” – É por isso que os cidadãos americanos são protegidos pelo bombardeamento dos não cidadãos afegãos. É ali que, a seguir são lançados folhetos com o seguinte conteúdo: “Matar civis como acto de vingança, ou até com a finalidade de evitar uma agressão por parte de gente com que eles simpatizam, é, por conseguinte, moralmente errado.” E se pudessem, riam-se, os bombardeados.

“Existe uma guerra justa? Em nome de que valores pode ela ser justificada?”, inquire a Neue Zürcher Zeitung enquanto apresenta o referido documento. Pois bem: A resposta à primeira pergunta reside na segunda. Esta revela mais do que uma resposta directa alguma vez poderia admitir: a imposição do valor e dos seus valores são as dimensões constituintes de qualquer guerra justa. A justiça e a injustiça convivem aqui de uma forma que não poderia ser menos edificante. Nunca nos ocorreria vituperarmos esta guerra contra o terror como injusta, antes pelo contrário, ela até constitui um novo ponto alto de todas as campanhas em prol da justiça. Mais que isso, na ausência de interesses económicos palpáveis, ainda se aproxima mais da justiça pura. A América conduz a mais justa de todas as guerras. Quem quer continuar a lutar contra a guerra com o estandarte da justiça, só dá a entender que não compreendeu bem tudo isso. O que hoje incomoda não é a falta de justiça, mas o facto que a justiça está a mostrar cada vez mais claramente o seu verdadeiro rosto. Por detrás dos sorrisos da larva do carácter oculta-se o esgar do valor, com que tudo pode ser justificado.

E este conceito de justiça abalança-se, agora, a voos a uma altitude estonteante. “Os que perderam as suas vidas no 11 de Setembro foram mortos ilegalmente, de uma forma premeditada e com uma malvadez calculada – o que configura um modo de matar que, para sermos exactos, só podemos designar por assassínio.” Ou seja, contra a matança ilegal aposta-se agora na chacina legal. Não é permitido chamar assassínio a isso, mesmo que não seja outra coisa. Agora, o Império quer impor um monopólio internacional da violência. Quer, portanto, usar da violência em qualquer lugar, o que é precisamente o que nega aos pólos da violência, a não ser que estes sejam dirigidos, tolerados, apoiados ou cortejados pelo Império.

O recurso aos ideais fundadores, a insípida enumeração de usos e costumes democráticos, a imbecil insistência em “verdades fundamentais”, tais como a tão incansável como insuportável mentira fundamental burguesa de que todos os seres humanos nascem livres, tudo isso só aponta para que por estas bandas existem representantes da vanguarda da ciência que desistiram de vez de quererem compreender seja lá o que for, mas que ao menos sabem que têm a obrigação de serem patriotas. A América quer agora vir sobre o mundo inteiro. Pontificam as palavras de ordem em prol da perseverança. Michael Walzer publicou, a 2 de Março de 2002, no diário alemão Die Welt um texto a condizer com o título “Temos de ganhar”. Mas, já agora, o que há para ser ganho? Qual deverá ser o aspecto de semelhante vitória? Por vezes insinua-se-nos um pressentimento de que já nada impele esses senhores, a não ser o instinto ideológico. Que eles funcionam como máquinas biónicas da democracia e do valor.

“What we’re fighting for: A letter from America” é um documento que nos deixa envergonhados. Uma tagarelice iluminista em estádio final. A regressão pura. Esses intelectuais movem-se ao nível de abelhas trabalhadoras pré-programadas. É como o burburinho da racionalidade burguesa a induzir-se em delírio e que se entoa, uma vez mais, como o último grito da sapiência. A fonte desta, porém, vai secando. Mais não dizem os textos deste calibre.

Todo o site de www.americanvalues.org transborda, de resto, de conversa piedosa em torno da “civil society”. A devoção substituiu-se ao pensamento. Pontifica a oração. E não nos deixeis cair em tentação: “Comprometemo-nos a fazer tudo por tudo para nos precavermos de tentações nocivas – nomeadamente da arrogância e do chauvinismo – às quais as nações em guerra tão frequentemente parecem sucumbir. Ao mesmo tempo declaramos solenemente que para o nosso estado e os seus aliados a vitória nesta guerra se reveste duma importância extrema. Lutamos a fim de nos defendermos, mas também cremos estar a lutar para defendermos os princípios universais dos Direitos do Homem e da dignidade humana, os quais constituem a melhor das esperanças para a Humanidade. (…) Esperamos que esta guerra, ao pôr cobro a um impiedoso mal global, reforce a possibilidade de uma comunidade mundial fundada sobre a justiça.” Amen.

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Descansam sem paz – é, também, assim que se poderia caracterizar o estado actual da esquerda. Este é, no seu todo, deplorável. A moderação, o obscurantismo e o passanço total é o que define os últimos moicanos. Embora não queiramos entrar neste jogo, nem apoiá-lo de algum modo, ele não deixa de nos afectar. Foi com dor que, nos últimos meses, tivemos de constatar que a crítica e a emancipação, mas sobretudo a comunicação no seio da esquerda se encontra tudo menos ao nível das exigências. O que nos incomoda muito em especial é o galopante regresso do síndroma sectário às fileiras da esquerda radical, o reacender das orgias canibais. Estas não prejudicam apenas quem as alimenta – o que não seria um espectáculo muito edificante, mas de consequências suportáveis – mas, para além disso, todo o sector da crítica social, o que já é mais grave.

Um déjà-vu segue-se ao outro. Sentimo-nos como se tivéssemos voltado aos piores tempos dos “grupos K”. O que se julgava superado na prática, mais uma vez está a ganhar terreno, mesmo que a classe operária não apareça ela própria no papel de salvadora, tendo sido substituída pelo estado de Israel ou por alguma luta de libertação nacional. Os gestos e o porte é que não foram substituídos. Antes foram reincarnados. É a farsa da farsa que aqui encontrou uma existência zombiótica. A única coisa que ali ainda podemos ir buscar é uma intoxicação. Estamos perante uma verdadeira insurreição dos cadáveres. Os actores assemelham-se a figuras de filmes falsificados. O que está mais em voga nos últimos tempos são os bailes de máscaras antifascistas. Uma medonho espectáculo de fantasmas a caçarem fantasmas.

A esquerda não está menos enlouquecida que a sociedade contra a qual ela luta. Acontece que essa sua loucura dá tanto mais, e mais desfavoravelmente, nas vistas num microcosmo, nomeadamente nas vistas daqueles que teimam em não perder o hábito do pensamento crítico. O que é lamentável, e até incómodo, são os quadros de jardim infantil semelhantes a ruidosos clubes de fãs que são mandados, ora para a revolução, ora para a frente das classes ou da libertação, ora para uma cruzada infantil do Ocidente. Teremos de reflectir sobre o fascínio de semelhantes contra-sensos, sobretudo também no que diz respeito às conotações psicopatológicas. Em geral, porém, diminuirá a atenção prestada a esse meio, mesmo que alguns empecilhos ainda tenham de ser removidos.

Desde o 11 de Setembro foi criado (e, em muitos casos: intencionalmente) um clima em que custa cada vez mais respirar. Nomeadamente nos contextos anti-alemães, um anti-antisemitismo desenfreado perdeu todo o chão debaixo dos pés. Ali, as confissões de fé e as gírias dominam a cena da forma mais escabrosa. Onde falta o conhecimento, as confissões de fé não custam, onde faltam os conceitos, ajuda uma gíria hermética. Com esta imagem de marca uma pessoa ao menos reconhece o seu parceiro identitário como o tu que é ele próprio. (A mesma coisa poder-se-á dizer evidentemente de diversas seitas ML, trotzkistas, estalinistas ou anarquistas.) No pior dos casos tememos que divisões inteiras de garotada venham a ser literalmente desgastadas pelos seus contextos. Destas cruzadas infantis, destas deportações da impotência, apenas poucos regressarão sãos e salvos.

Uma geringonça indecifrável é muitas vezes tomada por um sinal de inspiração superior. Que “milhares de mais jovens andassem a papaguear a sua gíria” já tinha incomodado Günther Anders, e com toda a razão, nos discípulos de Adorno (Anders, Ketzereien [Heresias], Munique 1982, p. 317). A província anti-alemã não se deleita em nada tanto como na sua jargonite aguda. Jochen Bruhn, por exemplo, é o grão-mestre de um auto-obscurantismo que projecta o incompreensível na catalepsia mental do receptor e não na fraca capacidade de expressão do autor. No entanto a resolução desta história seria tão simples como a das “Novas Vestes do Imperador” de Andersen. Seria suficiente acender uma luz na câmara escura. Seja como for, os apologetas, tanto os de fresca data como os de data menos fresca, oiçam: Se não perceberem nada, ao menos ainda percebem alguma coisa, mas se realmente perceberem alguma coisa, ficam mesmo sem perceber o que quer que seja. Quando um autor desses já não souber o que fazer, deita regularmente a mão ao caixote de lixo, de onde desenterra este ou aquele texto mais que ultrapassado de Robert Kurz para o atirar a um público satisfeito consigo próprio. E este pode rir-se à vontade, sem compreender que se ri da pessoa errada.

A divisão dos anti-alemães hardcore está a fazer um trabalho de valor alemão. Minucioso. Agora até toma a Primavera falsa das trincheiras identitárias por um sucesso. O que, no entanto, é mais certo é que aqui um projecto de recusa se limitou a fazer alguns estragos, ou se encontra entretido a fazer muitos mais. (Mais pormenores a este propósito podem ser depreendidos das últimas duas edições da Streifzüge (3/2001; 1/2002).) A prisão solidária, a jargonite, o denunciacionismo e sobretudo o identificacionismo dominam este ambiente. Somos bons porque os outros acham que não somos flor que se cheire. É esse o padrão constituinte da identidade. Por isso, o mote é: Ninguém pode gostar de nós. A aversão dos outros confirma a nossa aversão. Pelo menos isso está conseguido. No entanto poucos encaram este horror de frente. Pelo contrário, serão muitos mais a virar as costas horrorizados. Não nos podemos iludir a esse respeito. Os que dão indiscriminadamente pancada a toda a volta não se limitam a prejudicar-se a si próprios. As quantidades de energia que têm de ser gastas em tais contendas falam por si. Nomeadamente, dizem que não se resolvem por si próprias (tal como tendemos a presumir em toda a nossa pachorra), mas que têm de ser resolvidas.

Os concursos de radicalismo contemporâneos funcionam como um ranking dos arruaceiros. Quem manifesta o comportamento mais bárbaro é quem tem razão. Quem, por exemplo, acusa Sharon de brandura perante o “colectivo destrutivo palestiniano” (para além do mais, esse oportunista mole ainda quer tolerar um minúsculo estado palestiniano) ou acusa Bush de falta de determinação perante o terrorismo, já vale qualquer coisa no meio. It’s a hit. Para manter-se no centro das atenções, os anti-alemães hardcore têm de subir constantemente a parada, até à incursão por eles próprios provocada contra as próprias hostes que, a seguir, é suposto servir de prova verdadeiramente contundente de como eles próprios se encontram ameaçados. São igualmente aborrecidos os “anti-alemães softcore”. As inúmeras variantes “Bahamas Light”, embora sejam mais moderadas no tom, continuam sequestradas no que diz respeito ao seu conteúdo. A um nível de agressividade inferior, propagam a mesma coisa.

O seu mister é a denúncia. Neste ramo, os anti-alemães alcançam a sua forma máxima, porque é esta a sua forma de expressão. Aí, eles são tão alemães quanto são aplicados. Inigualáveis trabalhadores do valor. Tal como esse Justus Wertmüller de má fama, que poderia ser designado como um difamador de primeira ordem. Por assim dizer uma pumpgun semiautomática de projecção enfática. Quem se desvia, nem que seja por uma nuance, leva um tiro. É que sempre tudo está em causa. Wertmüller enxerga nazis à primeira vista. Ao menos agora, a posteriori, ele sabe que os seminários da Krisis são frequentados pelos “eco-barbudos neofascistas do clube de fãs de Silvio Gesell”. Pois bem, logo se via que esses tipos da Krisis eram desta laia. Robert Kurz até já tem a honra de figurar na tragédia cerebral bahamota como Oswald Spengler. Assim rejubila e canta à tirolesa o anti-alemão. Que já temos de ser combatidos como (ou até: enquanto) fascistas, isso sabemos desde a terceira declaração de comando da Bahamas, daquela com o eloquente título “Em defesa da civilização”: “Se, no entanto, o anti-capitalismo deixar de poder ser distinguido das obras colectivas de Nuremberga e de outras associações islamico-alemãs, se ele deixar de reclamar a superação da socialização capitalista ao mais alto nível desta e não vir os perigos de um anti-capitalismo que já nada mais tem a oferecer que o horror igualitário pré-civilizacional, então ele terá de ser debelado como qualquer outro perigo fascista.” (Bahamas 37).

Onde espreita a ameaça do “horror pré-civilizacional”, segundo esta nova lógica alemã temos de nos estender pelo lençol do “horror civilizacional”. Aí misturam-se e confundem-se as coisas e é uma falta de alegria. Chega ler, por exemplo, o artigo completamente chanfrado de Wertmüller “Entre Camponeses” (Konkret 1/2002). Aí somos socializados que não paramos de nos espantar. Mas, agora a sério, o “horror aos estímulos que só confundem” (Wertmullah (1), Mulá do Valor) leva-nos à denúncia da “individualidade vivida plenamente” (Mulá do Valor), pois afinal propagamos “a renúncia ao luxo como virtude” (Mulá do Valor). E à “artificialidade e falta de limites mais louca” temos um horror que nos pelamos. E quem suportamos menos são aqueles que “têm a firme determinação de se divertirem” (Mulá do Valor). Aí nós, que de qualquer forma não temos qualquer sentido de humor, deixamos de o ter de vez.

Bem convém aproveitar para se rir a nível subjectivo do que constitui um incómodo objectivo. No entanto o muezim possesso com a civilização ainda não tinha conhecimento de que as sombrias figuras camponesas da sua tragédia anti-alemã, ou seja, Bové, bin Laden, Zapata e Lohoff, numa reunião mantida em segredo, chegaram a encarar a eliminação dos EUA. Na resolução extraordinária “Contra os saltos altos e as meias de rede: Apelo à aniquilação da felicidade” é especificado explicitamente que os anti-alemães, no “socialismo camponês” a construir, terão de se tornar úteis à comunidade popular como trabalhadores rurais. A desurbanização prática significa que, depois de feito o trabalho do dia, acompanhada com sumo de maçã natural e música popular alpina, a aprendizagem de cor de suras do Alcorão e de páginas da Krisis deverá conduzir à vereda luminosa. Também o famigerado anti-antisemitismo já só poderá ser defendido de um modo estritamente pacífico. Ai, Justus, fica descansado que é assim mesmo.

Se os constrangimentos colectivos em casa da Bahamas realmente apresentam as aparências de uma “individualidade vivida plenamente”, mais vale fugir da mesma. Mas talvez a expressão “vivida plenamente” tenha, de qualquer maneira, de ser lida no sentido de passada, morta, acabada, transacta e sida. Assim, ainda o vedor de fantasmas mais passado da pinha acerta na mouche sem sequer fazer pontaria. As quadrilhas dos mulás do valor, quanto ao bem-estar pachorrento que emanam, mais se assemelham às mesas dos clientes habituais das cervejarias do Palatinado superior. Se ali se anuncia a felicidade, nós preferimos a falta dela. Mas o que mais havemos de dizer: quem se deixa levar pela promessa de felicidade de proveniência burguesa, torna-se cúmplice do crime cometido contra a felicidade pela mesma.

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Depois das querelas coloca-se, mais urgente que nunca, a pergunta perfeitamente banal: Quem é o nosso público? A quem é que nos queremos dirigir? Breve: A orientação implícita, que teimosamente tem vindo a impor-se, para a esquerda radical ou o que dela resta, sempre deveria ser questionada com mais determinação. Essa é mais usurpada do que alguma vez foi decidida. Não queremos dizer que a esquerda radical não constitua uma área de referência mas, sim, que esta não deve ter o estatuto de primária, ou até de única. Tanto na própria Krisis, como nas publicações exteriores a ela, temos de ter mais em atenção este ponto. Nem tudo o que nos vai acontecendo teria mesmo de nos acontecer. Muito do que até à data se ia proporcionando de uma forma casual sempre deveria ser mais colocado sob o comando das intenções explícitas.

No entanto a alternativa ao passanço radical de esquerda não pode consistir na reedição das ilusões reformistas à laia da ATTAC. Este romanticismo em relação ao estado-providência e à política em geral enferma de males que ainda estão por contar. Ainda que haja que admitir que ali, hoje em dia, as capacidades de desenvolvimento dos vários segmentos e sobretudo dos indivíduos inspiram prognósticos mais optimistas do que nos pântanos sectários que vão prosseguindo as suas trajectórias rumo ao isolamento total. E este, ao fim e ao cabo, também não deixa de ser um ponto de vista importante.

Vejamos por exemplo o chamado movimento anti-globalização. “Imiscui-vos” contra “Dêem cabo deles” (Jungle World 45/2001) é, na nossa opinião, um contraste pouco promissor que serve no máximo para a definição de identidades. Mas isso já é tudo. A crítica não só deve pôr os pontos nos is, como também tem de actuar com sensibilidade. Ela tem de oferecer possibilidades de entrada. As portas e travessas não devem ser trancadas, mas mantidas abertas. O que temos em mente é observar os movimentos enquanto misturadoras sociais com mais pormenor a fim de falarmos de possibilidades e limitações. A imiscuição não excluirá a hipótese de dar cabo de algo. Nem vice-versa. Para além disso interessa não elevar a posição sempre logo à confrontação, pelo menos se uma pessoa estiver interessada em manter abertas opções estratégicas que não redundem em tira-teimas.

Para além da crítica ideológica será necessário formularmos, nós próprios, uma crítica social adequada que identifique os vícios da crítica do capitalismo (se bem que sob outra forma) também em si própria. É esse o terreno que importa lavrar. O que antigamente era designado por questão social, nem pode ser deixado por conta dos tradicionalistas, nem por nada pode ser abandonado, lá por, com razão, supormos nesse campo uma porta de entrada para a propaganda nacionalista. A crítica do valor não significa apenas demonstrar que a socialização do valor constitui um tipo de organização social paradoxal, mas igualmente que até os “progressos” imanentes, por assim dizer, se esgotam, o que significa falar da impossibilidade dentro da impossibilidade em vez de alucinar com possibilidades no meio da impossibilidade. No entanto, aquela também requer que não excluamos nenhum campo, nenhum tema, devido às suas dificuldades.

Neste contexto será crucial desmascararmos o realismo como deve ser (tal como acontece, de uma forma incipiente, em Robert Kurz, A Derrocada do realismo, Krisis 14) e, de um modo geral, não subordinarmos os nossos desejos e propostas ao critério da objectividade. Quem hoje se limita a reclamar o que se apresenta como passível de ser realista aqui e agora, domestica-se num lacaio senhorial. Será, por isso, lícito levantarmos exigências irrealistas? Sem dúvida, e mais ainda: temos essa obrigação. Mas, para não perdermos a nossa seriedade, temos ao mesmo tempo de introduzir no debate o irrealismo das mesmas. Isto parece, à partida, um pouco louco, mas esta tresloucação é que nos permite, por um lado, responder aos desaforos com um não claro e concreto, sem logo a seguir nos rendermos por nossa vez às ilusões.

A alternativa seria um não abstracto, mas isso também não nos ajudaria grandemente. O significado de uma opção estratégica situa-se aquém do atenciosismo e da crítica pura. “Quem não disser que não ao totalitarismo capitalista, bem merece ficar à mercê dos desaforos capitalistas”, este ponto de vista cínico e elitista decerto não é o nosso. Embora a arrogância perante certas limitações nunca possa ser evitada por completo, ela não deveria promover-se a virtude. Pedantes notórios não faltam por aí.

Tal como a crítica não se deve reduzir à experiência, ela também não pode subtrair esta última. Com isso não advogamos um seguidismo cego, mas uma interpretação e exposição da mesma, um assinalar da sua ressonância determinado pela respectiva forma. Mas esta atitude nada tem a ver com a de uma desvalorização pura e simples. As traduções são mais necessárias que nunca, se a crítica quiser ser entendida, em vez de se tornar uma ciência secreta de alguns poucos iluminados. Semelhante crítica, por muito nível e substância que tenha, mais cedo ou mais tarde morrerá à fome na sua torre de marfim.

No entanto, enquanto não houver qualquer perspectiva em vista, isto é, enquanto tal perspectiva não for compreensível, e muito menos palpável, a resistência voltará sempre a cair nas formas antigas, querendo salvar o que se puder mesmo onde não houver salvação possível. Este apego às conquistas presumivelmente emancipatórias da civilização contra esta mesma está a tornar-se cada vez mais estapafúrdio. A referência positiva a adereços convencionais de princípios formais é, de resto, uma característica comum a mais que muitos, desde a Bahamas até à ATTAC. Se o ponto de fuga acaba por ser mais o amoque ou a caretice, é muitas vezes uma questão da psique individual. E sobre esta ter-se-á de falar mais no futuro do que tem sido habitual até à data. Por exemplo: Como é que se constitui um crítico social? Por que motivo é que essa construção frágil tende, na sua negação das máscaras do carácter, tão desproporcionalmente para a loucura? Qual é a aceitação do obscurantismo galopante no seio da esquerda radical? Não é que, agora, saibamos tudo isso. Mas certamente ainda será permitido perguntar. E mais ainda: é obrigatório!

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A Krisis mais uma vez rema contra a maré. Não só a liberdade, a igualdade e a justiça estão à disposição, não, o mesmo poder-se-á dizer do Esclarecimento e da civilização, da racionalidade e da objectividade. Trataremos de todos estes assuntos com o melhor espírito herético, e sobretudo sem qualquer discrição supostamente educada. Espera-nos uma ocupação intensa. Mais que uma amostra, o leitor encontrará nesta edição uma entrada substancial. Desejamos um bom apetite e, como é natural, um bom estômago, visto que nem tudo será de fácil digestão.

A ementa é inaugurada pelo artigo O Esclarecimento e o seu Avesso. Para a salvação de uma “constatação banal”, de Claus Peter Ortlieb. Perante o renascimento iluminista generalizado após o 11 de Setembro, o autor insiste na ideia fundamental da “dialéctica do Esclarecimento”, querendo dizer que o irracionalismo não se opõe à racionalidade iluminista como algo de estranho e exterior, mas tem as suas raízes precisamente nela própria. Uma vez que a racionalidade moderna, a racionalidade da época burguesa, se refere unicamente à forma, e não ao conteúdo do pensamento, convertendo o sentimento num princípio reputado de hostil, ela produz necessariamente o contra-Esclarecimento como seu complemento. Ambos têm em comum isolarem um do outro o pensamento e o sentimento, residindo as únicas diferenças nesta ou naquela ênfase. Quem quebrar, perante esta alternativa, uma lança pelo Esclarecimento, não compreende a relação deste com o seu avesso, não compreende a autodestruição do Esclarecimento que, no entanto, na sua dinâmica própria, não aponta de um modo positivo para além da sociedade burguesa mas, antes pelo contrário, para a destruição da sociabilidade em geral.

Este diagnóstico levanta a questão de como a crítica, nesse caso, ainda deve ser de todo possível. Ortlieb opõe-se à recriminação de que quem se recusa a tomar partido na guerra contemporânea entre os sistemas simétricos e tresloucados do islamismo e dos “valores ocidentais” sugere uma posição fora da totalidade. Se essa recriminação fosse procedente, ela aplicar-se-ia a toda e qualquer crítica do todo da sociedade e declará-la-ia assim impossível. Mas, apesar de tudo, os meios do Esclarecimento e as possibilidades do pensamento e da argumentação racional não são assim tão limitados. A separação entre o sujeito em busca do conhecimento e o objecto a conhecer não exclui que se faça de si próprio, do próprio pensamento ou mesmo da totalidade da sociedade em que uma pessoa se movimenta o objecto do conhecimento. A crítica da racionalidade iluminista não significa não termos de pensar nas suas formas; como indivíduos de constituição capitalista nem podemos agir de outro modo. Tal, no entanto, não exclui uma consciência da própria situação, associada à esperança de conseguir sair dela.

Também Norbert Trenkle debruça-se, no seu texto denominado Negatividade Interrompida, sobre a crítica do Esclarecimento de Horkheimer e, sobretudo, de Adorno. Ele demonstra que essa crítica, apesar do seu inquestionável radicalismo, tem de acabar por renegar-se a si própria porque partilha determinadas suposições de base com o Esclarecimento sem as pôr em causa. O problema fundamental consiste em que Horkheimer e Adorno operam com um conceito de racionalidade não especificado em termos históricos. A racionalidade moderna aparece como um ponto culminante lógico de um desenvolvimento que, no fundo, já se inicia com a própria humanização, com a separação do Homem da natureza. A ruptura qualitativa que a racionalidade iluminista, com o seu formalismo rigoroso e a sua cisão entre o sujeito e o objecto, representa em relação ao pensamento de épocas históricas anteriores e que a identifica como um modo de pensar historicamente específico, associado à sociedade das mercadorias, vai-se esquecendo no meio de tudo isto. Neste aspecto, Horkheimer e Adorno têm os pés bem assentes na terra do Esclarecimento que, como todos sabemos, se mistificou em ponto alto de um desenvolvimento da reflexão humana que, sendo universal, atravessa as épocas, elevando-se assim, quase de passagem, acima de toda a crítica. De um modo simetricamente pessimista, ambos os autores reproduzem esta mistificação e, por isso, também não conseguem furtar-se a glorificarem a sociedade burguesa como um progresso historicamente necessário no caminho para uma possível emancipação humana. Mesmo que esta possibilidade tenha sido perdida, ambos ainda julgam descobrir na racionalidade do Esclarecimento um “resíduo de liberdade” que daria motivos de esperança. A crítica do carácter senhorial nomeadamente do pensamento kantiano, tem por isso, de andar continuamente às arrecuas – em caso de necessidade mesmo contra o sentido e o teor do texto. Contra isso argumenta Trenkle que o “desejo de salvação” não sobrevive no Esclarecimento, mas apesar dele. O facto de o Esclarecimento não conseguir, apesar de todos os esforços, apagar a ideia da libertação do poder alheio não pode ser-lhe contabilizado como um mérito, limitando-se a apontar no sentido de ele fracassar devido à sua própria pretensão totalitária. Nesta medida, não há nada a terminar que a sociedade burguesa tivesse traído ou recalcado.

Robert Kurz prossegue a agudização desta ideia fundamental nas suas 20 teses contra o suposto Esclarecimento e os “valores ocidentais” sob o eloquente título Razão Sangrenta. A forma apodíctica das teses justifica-se pela inefável reciclagem mediática do eurocentrismo, do Esclarecimento de pacotilha e da autoglorificação do imperialismo ocidental reunido após o 11 de Setembro, como se nunca tivesse existido uma reflexão crítica sobre “A Dialéctica do Esclarecimento”, sobre colonialismo, “sujeito”, “progresso” etc. Se esta tendência já se tinha anunciado nos filósofos democráticos das bombas aquando das guerras de ordenamento mundial dos anos 90, agora ela perdeu as inibições e generalizou-se por toda a sociedade, até aos últimos moicanos da esquerda radical.

Por isso, a polémica “afixação das teses” de Robert Kurz visa uma polarização intelectual que já há muito que deveria ter ocorrido quanto à nova formulação da crítica radical do capitalismo. Com a crítica da ontologia do trabalho, a crítica da constituição burguesa ainda não se encontra terminada; ela também tem de abrir caminho através das construções repressivas em vez de libertadoras do pensamento iluminista sedimentado na história moderna das teorias. Só aí é que o Rubicão estará passado. Este passo decisivo da crítica do valor, no entanto, não é possível sem se ter sistematicamente em conta a relação de cisão sexual, tema este que, até à data, foi levantado mais como que em paralelo à produção teórica da Krisis, sobretudo nos textos de Roswitha Scholz. Só por esta via é possível uma crítica emancipatória e radical do Esclarecimento que seja capaz de decifrar a relação entre o Esclarecimento e o anti-Esclarecimento reaccionário como uma identidade negativa e como uma pseudo-contradição burguesa sem se deixar amarrar às falsas alternativas da história da imposição do capitalismo que atingiu o seu fim.

A recusa de tomar partido na luta do imperialismo ocidental reunido contra os produtos da sua própria barbarização, que na situação presente constitui a única posição crítica do valor possível contra a totalidade do sistema de referências da sociedade mundial, tem de ser fundamentada por uma crítica do jogo de acção e reacção imanente entre a racionalidade e a irracionalidade capitalistas. O presente texto das teses quer ser entendido como entrada para esta discussão sobre a relação entre a socialização do valor, a relação de cisão e o pensamento iluminista burguês e de lógica identitária. De um modo consciente, não tomou a forma de um tratado cautelosamente diferenciado e relativizante repleto de salamaleques para todos os cantos da sala, mas a de uma definição incidente de uma posição que se quer tornar o incómodo e o espinho de um pensamento iluminista “masculino” e de uma lógica identitária que ainda se encontra longe de estar superado na esquerda radical e que se mostrou, nos excessos afirmativos dos últimos meses, do seu lado mais estúpido e feio.

Sobre um outro assunto, que não é menos actual, debruça-se Ernst Lohoff no seu artigo Primavera Anticapitalista?: sobre o “movimento anti-globalização”. Mesmo que tivesse sido exagerada a euforia de muita gente que, depois de Génova, já julgava descortinar uma nova APO [a oposição extraparlamentar do Maio de 68 alemão – N.T.], o protesto, apesar de tudo, representa um ressurgir da oposição após longos anos sem movimentos assinaláveis. Para além disso, ele comporta algumas qualidades novas, nas quais se inclui especialmente o seu carácter transnacional, mas igualmente a sua renúncia à unificação, a estruturas hierárquicas e a uma delimitação identitária. Mas estes momentos constituem, ao mesmo tempo, também uma fragilidade, visto que apontam para uma orientação muito pouco clara em termos de crítica social. A abertura proclamada e praticada muitas vezes não é mais que a justaposição desordenada de posições inconciliáveis. Nesse facto reside o perigo de uma manipulação alheia pelo mercado das opiniões e pelas prioridades da política oficial que transforma a luta pela autonomia numa farsa. A isso, Lohoff contrapõe que a renúncia consciente à ideia do sujeito político unitário não torna supérfluos nem o compromisso e a coerência, nem a delimitação clara da consciência crítica relativamente à consciência vigente. Uma corrente radicalmente crítica da sociedade só se pode formar se produzir ambas as coisas de um modo alterado relativamente ao vetusto modo subjectivo.

Uma crítica radical da sociedade não pode andar a convencer-se de que o protesto anti-globalização já vai de si na direcção certa. Ainda mais errado é, no entanto, limitar-se a criticá-lo e a condená-lo com base em critérios superficiais e arrogantes – o que é um mau hábito divulgado especialmente nos círculos dados a operarem com qualquer reducionismo político. Quem se recusar a reconhecer nos aspectos dúbios do protesto anti-globalização também e essencialmente o marasmo da produção teórica de crítica social, revela a sua total ignorância relativamente à questão de como a resistência e a consciência crítica podem, sequer, formar-se sob as condições contemporâneas e qual é o papel que a própria teoria da crítica social pode desempenhar nesse processo. Uma reorientação prática para um anti-capitalismo radical só é imaginável se coincidir com uma nova definição teórica. Uma crítica crítica, que se apresenta como guardiã do Santo Gral de um património de saber anti-capitalista supostamente consolidado, limita-se a encobrir com a sua critiquice o seu próprio estado desdentado, o seu próprio falhanço.

No mesmo contexto temático, Anselm Jappe debruça-se, em As Novas Vestes do Proletariado, sobre aquele livro que presentemente está a registar um grande sucesso no espectro crítico da globalização, tendo até sido saudado por alguns como o manifesto comunista do século XXI: “Empire” de Michael Hardt e Antonio Negri. O mínimo que podemos dizer é que Jappe não consegue compartilhar semelhante avaliação. Ele vê no livro, no fundo, apenas um remake valorizado com elementos pós-modernos do operaismo italiano dos anos setenta que, por seu lado, não era outra coisa senão uma neoversão do marxismo tradicional. O que nos pode iludir a esse respeito é, para já, a forma ecléctica de lidar com a teoria patenteada por Hardt e Negri e o facto de já não se falar do saudoso proletariado, mas da “multitude” que, ao ser observada mais de perto, revela não ser mais que a sua reencarnação. Se, por exemplo, o operaismo, com a sua ênfase radical no sujeito, tinha glorificado as lutas da classe operária e de outros explorados como o verdadeiro motor de todo o desenvolvimento do capitalismo, incluindo as suas crises, agora também a formação do Império supranacional é suposto ter sido uma reacção da soberania à pressão da “multitude”.

No seu todo, o livro é muito mais convencional a nível teórico do que finge ser. Por exemplo não chega nem perto do esboço de uma crítica do princípio formal da sociedade, e uma análise de crise desenvolvida numa perspectiva de crítica económica á coisa que ali se procura em vão, se bem que a palavra “crise” apareça continuamente, mas apenas para caracterizar o normal funcionamento do capitalismo. Por isso também não admira que, nesse livro, nada se possa encontrar que se assemelhe a uma crítica categorial do trabalho. Antes pelo contrário. Tal e qual como no marxismo tradicional, o trabalho até se torna um ponto de partida da emancipação, com a diferença que agora é ao “trabalho imaterial” que cabe semelhante honra. Em termos conceptuais, muita coisa se baralha. A cooperação é suposta ser completamente imanente ao trabalho imaterial, não se juntando a ele vinda do exterior. Por isso, este trabalho seria capaz de se valorizar a si próprio, não constituindo um capital variável. Não admira, pois, que esta ode ao trabalho vivo acarreta consigo a ideia mais que apenas dúbia que este seria sugado pelo trabalho morto, exterior a ele, como por um vampiro.

Na parte dedicada aos comentários e aos debates, Udo Winkel começa por reportar-se à temática central deste número da Krisis e apresenta alguns Pensamentos nada Sistemáticos sobre a problemática do Esclarecimento. Segue-se o artigo de Roger Behrens, Cada um é o seu próprio panhonha. Ou: teoria ingénua e crítica – uma recensão não isenta de polémica do livro de Axel Honneth “Das Andere der Gerechtigkeit” [O outro da justiça]. A seguir, Ernst Lohoff tece, no seu artigo Frankenstein não dá conta do recado, algumas considerações críticas sobre o artigo de Anselm Jappe “Genes, valores, revoltas camponesas” da Krisis 24. O debate sobre este texto prosseguirá no próximo número. Torsten Liesegang desmonta, em O regresso da literatura Pop enquanto farsa, os desabafos literários de uma geração mais recente de apresentadores televisivos, tais como Benjamin von Stuckrad-Barre, Christian Kracht, Florian Illies, etc. Segue-se mais um artigo da autoria de Ernst Lohoff, Os espíritos que esconjuraram, em que é analisada, com base em acontecimentos recentes, a corrupção enquanto fenómeno endógeno do capitalismo. E, por fim, Udo Winkel apresenta uma recensão de A lenda do devir e O mito da nação, duas publicações recentes de Patrick J. Geary e Andreas Dörner, que se debruçam de uma forma crítica sobre a formação das nações no contexto europeu e alemão.

Resta a previsão do próximo número. A tónica deste recairá sobre a relação entre a teoria e a prática social, uma interrogação, portanto, que não em último lugar diz respeito à própria Krisis e às suas actividades, pelo que o seu tratamento não deixará de ter um carácter auto-reflexivo. Para além disso, seguir-se-ão mais contributos para a crítica do Esclarecimento, enfoque esse que ainda nos dará que fazer por mais algum tempo. Estamos preparados para recebermos protestos contra os artigos publicados sobre o assunto neste número da Krisis que também entre nós deram azo a acesos debates. Antes nos admiraríamos com a sua ausência. Por isso convidamos todos a exprimirem-se também por escrito. O debate está aberto.

Anúncios já se fizeram muitos no âmbito destas páginas, mas uma vez que conseguimos respeitar em grande medida o nosso timing com este número – ao que não é alheia a actividade da nova redacção – ousamos o prognóstico de que a Krisis 26 ainda verá a luz do dia nos finais do Outono deste ano de 2002.

Franz Schandl e Norbert Trenkle pela redacção.

Tradução de Lumir Nahodil

1. Corruptela do nome Wertmüller: Wert quer dizer ‘valor’, Mullah corresponde a ‘mulá’, e assim o nome do homem passa a ‘mulá do valor’.


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